As pedras clamarão

Assim como apóstolo Pedro foi substituído pelo apóstolo Paulo, Deus também pode levantar "pedras" (pessoas duras de coração) para fazer a obra de Cristo

Maiara Pires

“E, chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Marcos 8.34).

Para ser cumpridor da palavra enxertada pelo Espírito Santo e ser aperfeiçoado por ela, é necessário observar quatro importantes passos, de acordo com o pastor Fábio Saraiva:

1º) Ir até Jesus: É preciso sair da zona de conforto. Não ser mero expectador dos milagres, não ser historiador mas, sim, a própria história. 

Pois, ao se colocar na posição de observador, é uma grande armadilha para se tornar um fariseu, um analista crítico da história e desperdiçar a oportunidade de ser participante da graça redentora de Cristo. 

A primeira coisa que um pecador arrependido faz ao se aproximar do Senhor Jesus é se colocar na posição de adorador. 

Ser adorador é ter atitude de expressar a gratidão pelo amor de Deus de variadas formas, incluindo a adoração com os lábios ou o simples gesto de levantar as mãos aos céus em sinal de entrega na hora dos cultos, oferecendo sacrifícios de louvor. 

Ou ainda, se prostrar diante do Pai. 

“Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13.15).

2º) Negar-se a si mesmo: A transformação, o agir de Deus só acontece depois da renúncia do próprio eu. 

Afinal, quem nunca ouviu na sala de aula um professor ensinar que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço? Pois é literalmente isso que acontece na vida espiritual. 

O Espírito Santo não vai conseguir habitar no mesmo lugar que o seu “eu” e muito menos junto com os espíritos malignos que ainda existirem dentro de você. 

Já diz o louvor: 

♫ Há uma semente que têm que brotar / Existem vontades que têm que morrer / Morrer para o mundo e viver para Deus / E o adorar” ♪.

3º) Tomar a sua cruz: Para que serve uma cruz? Para crucificar. Mas crucificar o quê? A velha criatura que não quer permanecer sepultada nas águas do batismo. 

Se a velha criatura não morrer, não há ressurreição. Não há novidade de vida. 

“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (João 12.24).

4º) Seguir Jesus: Mas, pra onde Jesus vai nos levar? Para o Gólgota, o lugar da crucificação. 

A sua carne vai querer viver e o Espírito também. Mas um desses terá que morrer. A morte e a vida está em suas mãos. 

“Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Romanos 6.22).

O que você está fazendo com o seu talento

Trazendo estas ilustrações para a obra do ministério de Cristo, cabe uma pergunta. Por que não somos envolvidos da mesma forma que os discípulos na época de Jesus? 

De acordo com o pastor Fábio, é por causa da zona de conforto.

Um exemplo claro de comodismo foi o que o apóstolo Pedro fez diante do que o Senhor Jesus ordenou (ver parábola dos dez talentos Mateus 25.14-30): entregou de "mão beijada" ao apóstolo Paulo, o ministério concedido por Cristo a ele. 

“Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16.18-19).

O apóstolo Pedro foi ordenado a pregar o evangelho aos gentios. Mas, ao invés de sair pelos confins do mundo, ele não quis padecer pelo nome de Cristo e preferiu ficar na zona de conforto, apenas em Jerusalém pregando para os judeus com toda a dissimulação, como relatado no livro de Gálatas 2.1-14.

Depois que Jesus apareceu ressuscitado aos discípulos, ele volta a comissionar a Pedro: 

“E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas” (João 21.15-17).

Jesus fala três vezes com Pedro, analisa o pastor Fábio, dessa forma: “Apascenta os meus cordeiros” (a liderança da igreja, aqueles que já foram gerados em Cristo); “apascenta as minhas ovelhas” (as perdidas da casa de Israel); “apascenta as minhas ovelhas” (os gentios).

Mais adiante, ele próprio reconhece o que Cristo entregou nas suas mãos: 

“E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis já há tempo que Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem” (Atos 15.7).

Ninguém é insubstituível

"Diante dessa ilustração do ministério de Pedro, de ter enterrado o talento que Deus deu para ele, cabe um apelo a cada obreiro: não despreze o dom que há em ti. Toma o que tu tem para que ninguém tome a tua coroa. Lembre-se, porém, que ninguém é insubstituível. Se você desprezar o seu talento, Deus levanta outros obreiros muito melhores do que você. E faz, através de outros, aquilo que poderia ser feito por meio de você", lembra o pastor Fábio.

Foi o que aconteceu com Pedro. E Jesus avisou: 

“E, respondendo ele, disse-lhes: Digo-vos que, se estes se calarem, as próprias pedras clamarão” (Lucas 19.40). 

Sabe qual foi a pedra que clamou pelo evangelho? O apóstolo Paulo. 

“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (Atos 9.15-16). 

Mas, por que, pedra? Porque Paulo era duro de coração, doutor da lei e perseguidor da igreja de Deus.

Agora, veja como Pedro percebe involuntariamente o que ele perdeu deixando de lado o que Deus entregou nas mãos dele: 

“E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pedro 3.15-16).

Ele disse que há pontos difíceis de entender nas epístolas de Paulo. O que significa isso? 

"Que os próprios discípulos não tinham a revelação completa do evangelho. Por isso, não compreendiam o que Paulo escrevia (apesar de Pedro estar falando dos indoutos e inconstantes). Ou seja, é visível e notório que o apóstolo Paulo recebeu mais entendimento do evangelho do que os outros discípulos", avalia o pastor Fábio Saraiva.

Então, vamos despertar o dom que há em nós para a obra do ministério de Cristo.